sábado, 9 de março de 2013

Marcas Indeléveis


Marcas Indeléveis
                              é possível recomeçar
            Logo na primeira página vemos a frase: “Durante toda vida sonhara receber flores. E a vida reservara-lhe tão somente espinho que feriam deixando cicatrizes profundas e insondáveis”, pode-se perceber que não se trata de nenhum conto de fadas, ainda assim acreditei em uma história de amor quando Esther tentando fugir da miséria em que vivia no Maranhão vai para Fortaleza trabalhar, lá chegando percebe que foi enganada e que trabalhará para uma família tão pobre quanto à dela, mas é então que conhece seu amor pré-adolescente, e tudo parece valer a pena, mas a realidade bate a porta e a violência, tão presente em nosso cotidiano, ceifa o amor inocente que florescia.
            Esther mesmo marcada pela tragédia volta para o Maranhão e tenta retomar sua vida. Ao retomar os estudos conhece seu segundo amor, um professor “cobiçado por dez entre dez garotas”. Ele se encanta por Esther e tem inicio uma história marcada por desejo, paixão, amor, erros, encontros, desencontros, traição, abandono e preconceito.    Chegamos ao terceiro amor de Esther, no meu entender o seu pior erro. Neste ponto do livro eu já a julgava como se a conhecesse, Esther me parecia um parente ou uma amiga que comete milhares de erros. É muito fácil apontar os erros dos outros achar a solução para o problema alheio, mas quando nos deparamos com a situação percebemos que não é tão simples assim. Digo isto porque quando Esther o conhece eu tinha vontade de gritar: - ISTO NÃO VAI DAR CERTO, ESTE CARA É ROUBADA, SAI FORA.  Mas quando ela estava envolvida com ele eu comecei a me sentir na pele de Esther, sua tentativa desesperada de viver um conto de fadas ou de pelo menos se encaixar dentro dos padrões para deixar de ser alvo dos preconceitos me sensibilizou. Ele a desejou, se apaixonou, abriu mão de sua vida de conquistador, amou, casou, deu-lhe uma vida digna, traiu, magoou, humilhou, fez com que passasse necessidade, vergonha, levou-a de volta a miséria e o preconceito voltou a rondar a vida de Esther.
            A dependência financeira é o que faz muitas mulheres aceitarem viver com companheiros cruéis e violentos durante anos, muitas pessoas costumam criticar dizendo que é falta de coragem de trabalhar, mas conseguir um emprego, sem experiência, muitas vezes sem estudo, arrumar um lugar onde deixar os filhos enquanto se está trabalhando não é fácil. Tenho certeza que estas mulheres se sujeitam pensando em preservarem seus filhos da fome, da miséria, ou de uma morte eminente nas mãos da violência. Mas o que realmente me surpreendeu em Marcas Indeléveis foi a exposição da dependência afetiva, eu nunca havia pensado sobre isto e na pele de Esther pude perceber o quanto isto era determinante na hora em que ela aceitava o marido de volta.
            No último capítulo eu me senti com a alma lavada, foi maravilhoso vê-la crescer interiormente, é inacreditável a dimensão deste crescimento, Esther ultrapassou todos limites imagináveis, eu me renderia facilmente, mas ela não. Esther enterra os contos de fadas com uma pá de cal, o livro ainda tem dez páginas depois disto, mas para mim não precisava, o livro poderia terminar ali. Só lendo para entender.