Marcas
Indeléveis
Logo
na primeira página vemos a frase: “Durante toda vida sonhara receber flores. E
a vida reservara-lhe tão somente espinho que feriam deixando cicatrizes
profundas e insondáveis”, pode-se perceber que não se trata de nenhum conto de
fadas, ainda assim acreditei em uma história de amor quando Esther tentando
fugir da miséria em que vivia no Maranhão vai para Fortaleza trabalhar, lá
chegando percebe que foi enganada e que trabalhará para uma família tão pobre
quanto à dela, mas é então que conhece seu amor pré-adolescente, e tudo parece
valer a pena, mas a realidade bate a
porta e a violência, tão presente em nosso cotidiano, ceifa o amor inocente
que florescia.
Esther
mesmo marcada pela tragédia volta para o Maranhão e tenta retomar sua vida. Ao
retomar os estudos conhece seu segundo amor, um professor “cobiçado por dez
entre dez garotas”. Ele se encanta por Esther e tem inicio uma história marcada
por desejo, paixão, amor, erros, encontros, desencontros, traição, abandono e
preconceito. Chegamos ao terceiro amor
de Esther, no meu entender o seu pior erro. Neste ponto do livro eu já a
julgava como se a conhecesse, Esther me parecia um parente ou uma amiga que
comete milhares de erros. É muito fácil apontar os erros dos outros achar a
solução para o problema alheio, mas quando nos deparamos com a situação
percebemos que não é tão simples assim. Digo isto porque quando Esther o conhece
eu tinha vontade de gritar: - ISTO NÃO VAI DAR CERTO, ESTE CARA É ROUBADA, SAI
FORA. Mas quando ela estava envolvida
com ele eu comecei a me sentir na pele de Esther, sua tentativa desesperada de
viver um conto de fadas ou de pelo menos se encaixar dentro dos padrões para
deixar de ser alvo dos preconceitos me sensibilizou. Ele a desejou, se
apaixonou, abriu mão de sua vida de conquistador, amou, casou, deu-lhe uma vida
digna, traiu, magoou, humilhou, fez com que passasse necessidade, vergonha, levou-a
de volta a miséria e o preconceito voltou a rondar a vida de Esther.
A
dependência financeira é o que faz muitas mulheres aceitarem viver com
companheiros cruéis e violentos durante anos, muitas pessoas costumam criticar
dizendo que é falta de coragem de trabalhar, mas conseguir um emprego, sem
experiência, muitas vezes sem estudo, arrumar um lugar onde deixar os filhos
enquanto se está trabalhando não é fácil. Tenho certeza que estas mulheres se
sujeitam pensando em preservarem seus filhos da fome, da miséria, ou de uma
morte eminente nas mãos da violência. Mas o que realmente me surpreendeu em Marcas
Indeléveis foi a exposição da dependência afetiva, eu nunca havia
pensado sobre isto e na pele de Esther pude perceber o quanto isto era
determinante na hora em que ela aceitava o marido de volta.
No
último capítulo eu me senti com a alma
lavada, foi maravilhoso vê-la crescer interiormente, é inacreditável a
dimensão deste crescimento, Esther ultrapassou todos limites imagináveis, eu me
renderia facilmente, mas ela não. Esther enterra
os contos de fadas com uma pá de cal, o livro ainda tem dez páginas depois
disto, mas para mim não precisava, o livro poderia terminar ali. Só lendo para
entender.